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Re: [PoliGNU] Re: desenvolverei interface sem patente?

 

On 04-02-2010 02:11, Célio Ishikawa wrote:
Olá pessoal. Recebi mais comentários, 2 delas dizendo que patentear é
diferente de compartilhar e uma dizendo que com o CC não preciso de
Prior Art. 2 salientam que no Brasil não há patente de softwares

O conceito de prior art se aplica a patente, portanto não tem nada a ver com CC. Lembre-se da diferença entre patente e direito autoral. Patente se aplica a ideias, software, modelos de negocio (em alguns países), produtos, processos e desenhos industriais (em geral). Direito autoral se aplica a uma obra, que pode ser uma instância de uma ideia. Fato: no Brasil software só pode ser protegido como obra autoral.

1) Se patentear é diferente do direito de compartilhar, porque a FSF é
contra patentes de softwares? Um software poderia perfeitamente ser
patenteado e depois colocado sob a licença que convir para compartilhar,

Não é bem assim. Nos EUA e Europa, por exemplo, patentearam o algoritmo do MP3. Softwares livres que implementem esse algoritmo não podem ser distribuídos legalmente nesses países.

inclusive GPL. Posso entender que a comunidade está me liberando para
patentear e depois aderir ao GPL/CC? Até onde sei, uma parte da
comunidade é contra inclusive à qualquer patente (por exemplo um pessoal
que gosta do Santos Dumont)

Na maioria dos casos, especialmente na área de software, são patentes de coisas óbvias que já são implementadas há anos. Na minha opinião patentes são um retrocesso ao avanço tecnológico pois só geram insegurança (vejam o caso do HTML5 e codecs de vídeo H.264 e Theora) e impedem que as ideias sejam compartilhadas. A maioria das patentes concedidas ultimamente nunca são implementadas, ficam apenas de moeda de troca para seus detentores. Patente não gera produto!


2) Quanto ao CC x GPL, de fato CC pode "infringir" 2 liberdades do GPL:
a modalidade não-comercial infringe a liberdade de uso para qualquer
finalidade, e a de não-derivação a liberdade de modificação. Quanto à

Cada combinação dos atributos CC gera uma licença diferente. Não existe "a" licença CC, mas "as" licenças CC. Algumas delas são livres (by e by-sa, sendo esta última também copyleft), outras não, apesar de permitirem algum compartilhamento.

comercialização, acho que a GPL é omissa e não que ela proíba a
não-comercialização. Pois a propria FSF escreveu que software livre pode
ser comercializado ("free software for a fee"), entretanto, se terceiros
vendessem o software ia ficar difícil para o criador-vendedor ter
retorno. A solução seria acordo de cavalheiros por um atributo
não-comercial? Ora, mas então CC só explicita isso.

Assim como o outro pode ganhar dinheiro vendendo o que você escreveu, você pode ganhar dinheiro com o que o outro escreveu. Esse é o acordo de cavalheiros implicitamente promovido pelas licenças. É outro modelo de negócio, não ache que vai funcionar como o modelo de software encaixotado do software proprietário, onde só se ganha x por cópia vendida e pronto. O modelo de negócios do software livre é baseado em serviços.

(não sei se é um exemplo bom, mas em resumo acho que o CC tá certo -
artistas aderiram - e que GPL só vale para códigos-fonte - programadores
aderiram)

Sim, cada licença tem seus propósitos mais específicos. Apesar de outros usos serem possíveis, cada licença é mais efetiva na promoção da liberdade e garantia dos direitos em seu nicho. GFDL, por exemplo, é melhor para documentação.

3) para esclarecer de vez se poderia patentear se quisesse: Nos EUA,
onde a USPTO (US Patents and Trademark Office) deixou a Microsoft
registrar o duplo-clique e o Page-up/Page-down, lá eu poderia patentear
a interface, e possivelmente como patente de software, ainda por cima

Considere duas situações: patenteie. Fique esperando alguma companhia que vive sugando patentes te processar por copiá-la (vão dar um jeito de dizer que vc copiou, pq nenhuma ideia sai do éter) ou fique esperando uma companhia de software proprietário licenciar sua patente e criar seu software proprietário (já que patente de software em geral inviabiliza software livre) e te dar um centavo por cópia vendida.

Ou: divulgue sua ideia, implemente-a, faça com que n projetos a implementem. Seja reconhecido como um bom criador/designer de interfaces. Preste serviços, arrume emprego em uma empresa que se preocupa com interfaces (ou crie uma) e ganhe dinheiro com isso. O direito moral, o crédito do criador é inalienável, isso ninguém te tira.

Os modelos de negócio do software livre e do proprietário são essencialmente diferentes. Patentes não costumam ser muito compatíveis com o último pois justamente inibem a criação, inibem o efeito viral em nome de um incentivo incerto e duvidoso ao criador. (Opinião pessoal)

--
Rodrigo Rodrigues da Silva
GNU LibreDWG maintainer
FSF Associate Member #7788
PoliGNU - Grupo de Estudos de Software Livre da Poli/USP



References